A comunicação é um negócio curioso. Ela tem muito mais a ver com o que as pessoas querem ouvir que com o que elas têm a falar e, ainda assim, a maioria das pessoas só quer ser ouvida...
Eu sou desafeto de estrangeirismos, jargões, rótulos e frases de impacto ―você frequentemente lerá rede de relacionamento em meus textos, mas dificilmente lerá network. Por outro lado, eu entendo como essas palavras e expressões são capazes de fomentar certezas objetivas e confortos inexistentes com seus significados subjetivamente vagos (o pleonasmo, aqui, foi intencional).
Mas assim é a comunicação. Se você se comunica para ser ouvido, é bom escolher muito bem suas palavras. Mas, antes disso, é preciso ouvir e observar muito! Descobrir o que interessa à pessoa para quem você quer falar, entender como ela pensa, conhecer suas ideias, familiarizar-se com sua linguagem, compreender o que ela acredita e identificar o que lhe provoca repulsa, assim como o que lhe desperta a atenção.
Agora, se você quer realmente tirar proveito de uma boa conversa e se conectar com a outra pessoa, aprenda a escutar ativamente. Isso implica em procurar por coisas interessantes no discurso do outro, estimulá-lo a desenvolver esses assuntos, tentar enxergar os eventos e as ideias como ele enxerga e fazer muitas perguntas relevantes e não-invasivas. A ideia é sutil e legitimamente se interessar pela outra pessoa e usar da empatia para estabelecer o interesse mútuo.
Eu gosto muito da ideia de que, para gerar empatia e integração com outros, não é preciso concordar com as posições das pessoas. É plenamente possível e enriquecedor interessar-se por opiniões contrárias. Basta focarmos em entender quais necessidades, interesses, experiências, crenças, perspectivas e linhas de pensamento levaram a pessoa àquela posição ―provavelmente encontraremos algo com o que nos identificamos e que servirá como ponto de congruência. Entender como as outras pessoas enxergam o mundo e como se relacionam com ele nos é muito vantajoso. Além de testar nossas próprias percepções da vida, ainda nos exercita o olhar de diferentes perspectivas, aumenta nossos recursos de conhecimento e aprimora nosso potencial cognitivo. E, na pior das hipóteses, nos dá munição para defendermos nossas posições.
Eu, por exemplo, procuro mais frequentemente desenvolver conexões com pessoas que pensam diferentemente de mim. Nas redes sociais, sigo mais páginas de pessoas e posições políticas, ideológicas, sociais e técnicas sobre as quais tenho reservas. Com isso, muito mais que raramente melhorei minhas percepções do mundo, aprimorei meus conhecimentos, aumentei meu repertório de recursos comunicativos, aprendi coisas novas e corrigi coisas velhas. Sem contar que a diversidade nos torna mais atraentes ao olhar dos outros, abrindo portas, e nos permite formar uma rede de relacionamento mais rica e colaborativa.
Mas, aviso, há um efeito colateral sério: suas certezas inflexíveis perderão força.
;)
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