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  • Foto do escritorCássio C. Nogueira

Amor não é 'commodity'; portanto, ninguém deve carinho a ninguém.

Atualizado: 3 de jan. de 2021



Quem nunca ouviu ⸺ou disse⸺ um “estou lhe devendo uma visita” ou um “assim que eu arrumar um tempinho, a gente marca”?


Não há troca no amor. Amor é doação. Amor é sentimento. Amor é prioridade!


Como muitos, se não todos, eu também já me dediquei quase que integralmente a uma pessoa. Deixei minha agenda de lado; adiei meus sonhos; parei de construir só para mim e fui construir para outra pessoa. Ajudei a construir coisas grandes e valiosas; coisas nas quais meu nome já não deve mais ser lembrado e provavelmente jamais aparecerá em sua história ou minha contribuição jamais será reconhecida. Por que isso acontece? Porque amor não se percebe, não se contabiliza. Amor se sente. Ou não. Os atos de amor só têm valor quando são percebidos e só são percebidos quando há amor recíproco.


“Amor não se contabiliza!” Acho essa afirmação quase perfeita. Adoro quando as ideias ‘escorregam’ da minha mente...


E, se amor não se contabiliza, ninguém deve carinho a ninguém.


Assim, a frase “estou lhe devendo uma visita” diz muito mais ao próprio emissor que a seu destinatário. A pessoa lembra de um carinho recebido, que não teve valor de fato, e se sente obrigado a retribuir, mesmo sem querer ⸺ao menos não mais que tantas outras coisas mais importantes que a pessoa quer, naquele momento⸺, porque as convenções sociais nos dizem que temos que retribuir todo e qualquer carinho. Como isso não acontecerá, ao menos não à escolha de prioridade da pessoa, ela tenta se redimir da culpa pelo gesto devido que não tem a legítima vontade de quitar. Essa frase é, de fato, dita a si próprio, apenas com o testemunho do outro e a fim de legitimar a própria consciência.


Da mesma forma, a frase “assim que eu arrumar um tempinho, a gente marca” é uma declaração velada do sentimento “você não é uma prioridade, neste momento.” Também é uma forma de amenizar a culpa e o desconforto de não retribuir um carinho, um interesse legítimo, mas manter uma porta aberta para quando a pessoa precisar ou houver um benefício atraente à disposição. Ao fazer tal declaração, a pessoa sente que está retribuindo o carinho parcialmente, passando uma boa imagem e se mantendo íntegro, ainda que em dívida.


Mas não há dívida...


Amor não é contrato. É escolha. Se eu quero, eu faço ou, ao menos, tento com todas as forças fazer. Se deixei de fazer, foi escolha. Isso não é prioridade, porque não sinto o que precisaria sentir para fazer. Não há maldade, apenas falta sentimento. Se formos honestos com nós mesmos, assumirmos o que queremos, o que priorizamos, onde depositamos nossos esforços, em que investimos nossa dedicação, tornaremos essas relações muito mais leves e com bem menos tensão. Porque, aí, só teremos que dizer “não” uma vez. Sem culpa. Sem dívida. Sem ilusão. Sem expectativas. Sem cobrança. Sem frustração.


Pode até doer um pouco em quem ouve o “não”, mas doerá uma vez só. Considerar uma dívida de carinho gera esperança que causará dor contínua no outro que aguarda ansiosamente o pagamento que, sabe-se, dificilmente virá. E dói em quem deve também, pelo menos no momento em que tem que justificar para se sentir menos culpado. É cruel.


Assim sendo, se não quiser, diga “não”. Se não for importante, recuse. Se não for uma prioridade, fique longe. Se não concordar, assuma sua posição. Se não enxergar valor, guarde sua opinião para si mesmo. Abstenha-se de quaisquer compromissos ou responsabilidades que não tenha a intenção, as condições, nem o desejo de cumprir.


Seja honesto consigo mesmo e terá a oportunidade de receber a mesma honestidade em retorno.

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