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  • Foto do escritorCássio C. Nogueira

O prazer e a dor do SIM e do NÃO




Em sua canção “Sei lá a vida tem sempre razão”, Vinícius de Moraes disse:


Ninguém nunca sabe que males se apronta Fazendo de conta, fingindo esquecer Que nada renasce antes que se acabe E o Sol que desponta tem que anoitecer De nada adianta ficar-se de fora A hora do sim é o descuido do não

Este último verso, “a hora do SIM é o descuido do NÃO”, já foi explorado por inúmeros pensadores (e outros nem tão pensadores assim), no sentido de explorar a ideia do SIM como o grande benefício, em detrimento do NÃO, o grande vilão que nos afasta da felicidade nas escolhas da vida, ou o SIM, como o defeito no caráter dos pais, que não conseguem limitar os abusos de seus filhos e aplicar o NÃO, educador de grande qualidade, por mera preguiça ou incapacidade. Mesmo no trabalho, falam no potente SIM para os desafios e no acomodado NÃO para a mudança.

Talvez você, leitor, esteja agora mesmo percorrendo a memória e se questionando sobre como você tem usado o SIM da felicidade e o NÃO da virtude educacional e não esteja seguro sobre frequência com que vem usando o CERTO e o ERRADO.

Pois eu quero, aqui, sugerir que não há o CERTO e não há o ERRADO. O SIM e o NÃO são ruins e bons na mesma medida, em qualquer situação. Ou seja, há felicidade no NÃO e há educação no SIM também!

Há que se pensar se o problema da felicidade, da educação e da realização profissional não está relacionado essencialmente na tentação do entorpecente sentimento de controle. Porque, pense aqui comigo...

Posso limitar as faculdades de minha existência dizendo SIM para o parceiro carente, inseguro e egoísta, que abusa, agride e me violenta com minha condescendência, ou posso dizer NÃO e me libertar de um mal maior. Também posso dizer NÃO à possibilidade de uma vida mais realizadora, rica, espontânea e harmoniosa de compartilhamento com o outro íntegro, sincero, bondoso e cheio de vida, dizendo SIM para meu medo da dor de uma possível perda futura e da frustração pelo não-controle da independência de outro que se encantou comigo.

E com os filhos, como exercer a autoridade e conseguir que os filhos façam “o que deve ser feito”? Ou como mantê-los afastados, em sua independência irresponsável, para que possamos cuidar das nossas cargas cotidianas de trabalho e responsabilidades ou até de um mísero momento de relaxamento e prazer? Devo dizer SIM para o ímpeto destrutivo de meu filho hiperativo ⸻que assim a sociedade e eu rotulamos, porque não conseguimos acompanhar sua energia e dinâmica? Ou devo dizer SIM para a educadora liberdade da criança experimentar o prazer e a dor por conta própria? Deveria, eu, dizer NÃO para o risco de traumas físicos ou emocionais sérios e que estão além da compreensão dos atos de meus filhos? Ou deveria dizer NÃO para a vontade dos pimpolhos que está em desacordo com a minha própria vontade e conforto?

No trabalho, eu poderia abrir mão de oportunidades de aprendizado e crescimento, ao dizer NÃO para o trabalho além do meu escopo ou poderia dizer NÃO aos abusos de poder, excessos e desmandos do líder incompetente e ganancioso. Por outro lado, poderia dizer SIM a um sistema ganancioso, explorador e doentio, que consome minha vida e a de minha família, mas posso dizer SIM à possibilidade de crescimento e desenvolvimento ao buscar e aceitar novos desafios, novos trabalhos e novas experiências.

É nessa tentativa de controle “do outro”, seja na relação romântica, seja no cuidado com os filhos ou no trabalho, que nos perdemos no dilema do SIM e do NÃO. Acontece que esses dois advérbios são contextuais e terão valores e funções distintas, de acordo com o que se faz presente no momento.

Por isso, minha sugestão é que você reflita um pouco sobre os SIMs e os NÃOs da sua existência e pondere os possíveis prejuízos e benefícios, os inerentes limites e oportunidades que tanto o SIM, quanto o NÃO podem trazer pra sua vida, em qualquer situação.


 


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